quarta-feira, 6 de março de 2013

Voltar

Quero acordar deste pesadelo.

Quero voltar a ser o que era, a fazer o que fazia, a sentir o que sentia.  Quero voltar a acordar sem a almofada inundada em lágrimas, sem o sabor salgado a infiltrar-se pela face, sem a vermelhidão nos olhos. Quero voltar a saber que as lágrimas são de alegria. Quero deixar para trás toda a tristeza, todo o rancor, toda a melancolia. Quero voltar a sorrir por pequenas coisas e a rir por tudo e por nada. Assim, simples.Não quero mudar: quero voltar ao que era.
E esta raiva que me consome é raiva de mim mesma. Não é ódio pelos outros. É ódio por mim. É uma vontade cega e surda, mas nada muda, pois grita bem alto. Vontade de fazer as coisas de maneira diferente. Voltar atrás no tempo e deixar de esperar pelo que esperei. Regressar e fazer tudo de novo, mas sem a espera por algo que não vem, que não é, que não sente.

Ai se eu pudesse! Se eu soubesse que seria assim! Não teria esperado, não. Teria agido! Teria lutado! Agarrado a oportunidade com unhas e dentes, mesmo que não houvesse onde os fincar.
Agora sinto que caio no vazio. E a queda é interminável. Não pára. Não acelera. Não trava. É uma queda contínua e monótona. Sem tempo, sem cadência, sem nada. É um vazio negro e profundo. Assim como a minha alma se sente agora. Isto é, se ainda tiver alma. Mas julgo que também ela foi arrancada de mim. Sim, arrancada. Puxada com força e contra vontade. Embora a minha vontade nem se manifestasse nesse momento. Estava dormente, assim como todo o corpo. Estava e está.

Tem de haver volta atrás. Não no tempo, mas pelo menos nas acções. Ou talvez não nas acções, mas sim nas consequências. Tem de haver outra solução. Tem de haver, existir, aparecer. Tenho de descobrir. E será esta a minha nova busca, a minha nova procura. E terá de ser esta a minha conquista. Como? Não sei. Mas sei que será. Desta vez terei de conseguir.
Ou então não. Se calhar engano-me a mim mesma. Tento iludir-me na esperança que passe, que mude, que renasça. Engraçada essa faceta da mente, que nos impele para a ilusão. Mas não lhe acho tanta graça quando a ilusão se desfaz. Quando a desilusão toma o seu lugar. Quando o negro, o vazio, a queda aparecem. Mas algum dia irão desaparecer. Eu sei.

Quero voltar a ser. Voltar a existir. Voltar a viver.

"Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo o abismo também olha para dentro de ti."
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Explosão


Quem és tu que ouço no meio do vento e que falas dentro de mim própria? Quem és tu que caminhas nos meus passos e me guias sem eu saber o rumo? És tu que corres dentro de mim como um rio, que me proteges como uma árvore, onde descanso à tua sombra.

  Pensava que estava a sonhar. Será que estou? Será que é pura fantasia? Não pode ser. Sinto-me viva. Viva, como não me sentia há muito. E respiro ardentemente! E vejo com sofreguidão! E saboreio com prazer! E sinto, oh!, se sinto!, com todo o meu corpo! E ouço o vento, e as vozes, e tudo! É uma revolução dentro e fora de mim! É um descontrolo excessivo quando não estás!
  E quando chegas, que calma que trazes...
  Como eu adoro o teu sorriso, o modo como olhas para baixo quando olho para ti. Como anseio pelo som da tua gargalhada ou aquele respirar pesado de quem contém o pensamento. E quando me fazes rir sem qualquer esforço! Que delícia! Como me sinto bem quando estás comigo. Como fico deslumbrada a olhar para os teus caracóis ou para os teus olhos meigos. E como ficas quieto, imóvel, calado durante tempos e tempos, só ao meu lado.

  Não quero ficar agarrada ao passado ou com medo do futuro. Não quero pensar no que poderia ter sido, sem nunca tentar. Se a felicidade nos bate à porta, devemos negá-la? Não... Vem comigo, anda! Agarra a minha mão. Vamos criar uma nova história! Vamos recomeçar! Uma página em branco. Um livro cheio delas, prontas para escrevermos.


"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" Fernando Pessoa

quinta-feira, 8 de março de 2012

I. Viagem

Era o início de um novo capítulo e eu não podia voltar atrás. O mais difícil sempre foi tomar uma decisão, mas depois de decidida nada me demovia nem me fazia retroceder. Sempre foi assim. Era inevitável.



O vento lá fora não parava de fustigar as árvores e a chuva caía copiosamente, como que a quererem impedir-me de sair. Mas nunca me senti ameaçada por isto. Fascinava-me a força da tempestade, o seu poder destruidor. Mas era a mesma tempestade que renovava tudo. Então, porquê ter medo? Era um presságio de mudança. Pensava eu.
Enquanto fechava a mala olhava mais uma vez pela janela. Depois, com o olhar percorri o quarto. Ia sentir falta de muito. Pus a mala ao ombro e saí, trancando a porta como se trancasse também o passado lá dentro. A chuva não parava de cair e o vento fez notar a sua presença ao agitar o espanta-espíritos quando  abri a porta. Ele esperava-me no carro, ao portão de casa, paciente como sempre. Aquela iria ser a viagem que mudaria a minha vida.
Entrei no carro e arrancámos. O velho motor fazia notar o seu desconforto em cada subida, mas nunca desistiu. Apenas o seu barulho e o da chuva e vento no exterior se ouviam. O silêncio dentro do carro imperava. Olhei para o autorrádio duvidando que ainda funcionasse.
«Podes ligar, se quiseres. Provavelmente tem um CD dos The Cranberries dentro.» Finalmente falou, ao reparar no meu olhar duvidoso dirigido para a velha geringonça.
«Não é preciso. Não me apetece música»
Era verdade. Eu não precisava de música naquele momento, mas sabia que as duas horas de viagem de carro iam ser bastante mais longas assim. Ele não me olhava directamente. Simplesmente não devia conseguir. A minha escolha afectava todos à minha volta, a ele em especial.
«Tens a certeza?» Olhou para mim com os olhos carregados.
«Sim, não é preciso mesmo...»
«Não me referia ao rádio.» Interrompeu-me. «É mesmo isto que queres fazer?»
Não tinha escolha. Ou a minha sanidade mental ou a vida que tinha levado nos últimos meses. E esta não era, absolutamente, a minha opção. Não era a melhor opção. O silêncio que mantive enquanto pensava assustou-o. Encostou o carro e parou.
«Sabes que não o tens de fazer. Tens outra alternativa. Fica connosco. Por favor!» Sentia os olhos dele a perscrutarem-me.
Era essa a alternativa que mais me assustava. Para além da minha própria sanidade mental, destruiria provavelmente também a deles. Incapaz de o encarar, virei a cara para a rua.
«Não posso.» Controlava-me, tentanto manter-me o mais fria possível para que ele não notasse o meu vacilar. «Não agora.»
O silêncio manteve-se. Era Agosto e estávamos no final das férias de Verão. Dentro de poucos dias ia começar o novo ano lectivo, o meu último ano de secundário, e com ele uma nova vida. Tudo porque seis meses antes me apaixonei. Porém, uma paixão não seria nada de mais numa adolescente normal. A diferença era que eu não era normal. Desde sempre que me foi difícil relacionar com os outros miúdos da minha idade; eram aborrecidos e infantis e eu sentia que não me enquadrava. Então dava-me com os mais velhos. E foi assim que o conheci.

(...)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Escrita

Desde sempre que me lembro de gostar de escrever. Escrevi de tudo. Ou pelo menos tentei escrever. Considero-me uma pseudo-escritora, se é que isto existe sequer. Escrevi poemas, ou algo parecido, escrevi desabafos, escrevi contos, escrevi histórias. Sempre os escrevi em papel. Todas as tentativas falhadas de escrever algo de que me orgulhasse não passaram disso: tentativas, falhadas, ainda por cima.
A escrita sempre me libertou. Tal como a música, sempre foi um refúgio quando precisava. Ainda agora continua assim. Posso não fazer nada de jeito, mas nunca deixei de fazer.

Começo na mensagem seguinte, uma história que ainda não terminei. Não sei quando estará acabada, ou se chegarei sequer a acabá-la. Mas, penso que vale a pena começar. Não tem título, tal como todas as minhas outras composições. Nunca gostei de dar títulos; para mim são como rótulos. Na minha opinião, não se consegue resumir uma história em apenas uma ou duas palavras. O seu sentido não fica completo. Eu pelo menos nunca o consegui fazer. Talvez seja um dos meus defeitos, uma das minhas maiores limitações. Mas faz parte de mim.

Não compro um livro pela capa ou pelo título. Não compro um livro pelo autor ou pela editora. Sempre que agarro num livro, abro-o numa página aleatória e leio-a. Se me agradar a escrita, leio o resumo do livro na contracapa. Se me agradar o resumo, compro o livro e leio-o. Admiro o esforço dos autores, talvez colossal, pelo menos para mim, quando tentam encontrar as palavras certas para colocar no título. Talvez seja verdade que não são eles que intitulam as suas obras. Talvez sim, talvez não. Sinceramente, não faço a mínima ideia.

Na minha história podem encontrar semelhanças com outras histórias já publicadas. É perfeitamente normal. Sou devoradora de livros e a maior parte deles marcam-me em algo. Porém, todos nós somos compostos por tudo o que vivemos, tudo o que lemos, tudo o que ouvimos. Somos parte de Camões, parte de Nietzche, parte de Pessoa, parte de Shakespeare; todos somos Einstein, e Darwin, e Saramago, e Gandhi. Eu, sou todos estes e muitos mais.


"Fazer grandes coisas é difícil; mas comandar grandes coisas é ainda mais difícil." (Friedrich Nietzsche)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Saudações

Não. Talvez seja demasiado formal. Afinal de contas trata-se de um blog; não de uma carta a alguém que me é completamente estranho. Por isso, Olá!

Ultimamente a necessidade de me expressar tem vindo a crescer. E drasticamente! Preciso de falar de tudo, mesmo quando parece que não há nada para dizer. Não me ocorreu melhor maneira de expressão a não ser o blog. Sim, poderia escrever um diário; mas para quem iria falar? Não sou desse género de pessoas. Sim, já fui. Já escrevi um diário; ou talvez até mais. Porém, as pessoas mudam, assim como os hábitos.

Não irei maçar ninguém com a minha escrita. Pelo menos não será minha intenção. De qualquer modo, tal como aqui entraram livremente, também poderão sair. Já me diziam os mais velhos que "a porta é a serventia da casa". Expressão talvez já velha, em desuso, que poucos já são os que conhecem o seu significado. Não, não chamo nem apelido ninguém de burro. Honestamente só penso que a cultura popular se tornou vítima de esquecimento e abandono.

Quem me ouça falar assim (ou talvez a expressão mais correcta seja: quem me vê escrever assim) poderá pensar que sou alguma mulher de meia idade, rabugenta ou apenas crítica da situação actual. Desenganem-se! Sou uma jovem na flor da idade. Não tenho uma longa experiência de vida, mas posso garantir que já vivi para ver muita coisa.

Faço parte da geração '90, a geração Y, a geração que supostamente iria trazer seres humanos inovados, inteligentes, cultos. Lamento dizer que a minha geração desiludiu as expectativas. Considero-me, porém, sortuda. Assisti à passagem de década, de século e de milénio; assisti ao 11 de Setembro e ao Tsunami do Índico e ao sismo do Haiti; assisti aos Jogos Olímpicos de Atenas e de Beijing e ao Euro 2004 e ao Mundial; assisti ao terror e à glória, ao medo e à rejubilação, ao infortúnio e ao sucesso; assisti à era da tecnologia, mas convivi com a tradição. Sobrevivi a tudo. Aprendi com tudo. Continuo a descobrir ainda mais.

Esta sou eu. Porque não sabemos quem alguém é pelo nome, idade, de onde vem ou qual a sua ascendência. Sabemos quem somos pelo que vivemos, pelos ideais em que acreditamos, pelo que pensamos e dizemos (embora por vezes estes não coincidam). Esta sou eu. Em poucas palavras e com muito por dizer.

Não prometo escrever com regularidade. Não assumo temas fixos, nem escrita semelhante. Serei diferente a cada dia. Mas não prometo não me repetir. Serei fiel a mim mesma e verdadeira nas palavras.

Sem mais delongas, espero que se tornem leitores assíduos e que os meus desabafos iluminem alguma coisa no meio de tanto excesso de luz.

"Imaginação é mais importante do que conhecimento. Conhecimento é limitado. Imaginação abrange o mundo."
(Albert Einstein)